INFLUENCIA LINGUÍSTICA DA ÁFRICA NO BRASIL
Em 1789, no primeiro
dicionário monolíngue do idioma português, já identificava várias palavras de
origem africana, de uso corrente entre os
brasileiros.
Do século XVI ao século XIX,
o tráfico transatlântico trouxe para o Brasil 4 a 5 milhões de falantes
africanos extraídos de duas regiões subsaarianas: a região banto, situada ao
longo da extensão sul da linha do equador, e a região oeste-africana ou
sudanesa, que abrange territórios que vão do Senegal à Nigéria.
A vinda dos negros africanos como escravos
foi um marco histórico brasileiro, sobretudo do século XVI. Apesar das
precárias condições da escravidão, os povos traficados jamais deixaram para
trás a herança cultural do seu povo.
No século XIX, o processo de
urbanização que se iniciava no Brasil a partir da instalação da família real
portuguesa no Rio de Janeiro e a abertura dos portos em 1808, exigiram a
fixação nas cidades da mão-de-obra escrava recém-trazida da África, numa época
em que a maioria da população brasileira era constituída de mestiços.
Ao findar do século XVIII, a
cidade do Salvador começa a receber, em levas numerosas e sucessivas, um
contingente de povos procedentes da Nigéria atual, em consequência das guerras
Inter étnicas que ocorriam na região.
O que muitas pessoas não sabem é que o
português falado no Brasil traz inúmeras palavras de origem africana. Em razão
da escravidão dos negros da África no Brasil Colônia, houve uma importante
contribuição do continente na formação do que podemos chamar hoje de idioma
brasileiro.
Dos vários dialetos existentes pela África,
os que tiveram maior impacto no Brasil foram o quimbundo, o quicongo e o
umbundo.
OS
BANTOS NO BRASIL
A influência banto é muito
mais profunda em razão da antiguidade do povo banto no Brasil, da densidade
demográfica e amplitude geográfica alcançada pela sua distribuição humana em
território brasileiro.
Os aportes bantos ou
bantuismos, ou seja, palavras africanas que entraram para a língua portuguesa
no Brasil estão associados ao regime da escravidão (senzala, mucama, banguê,
quilombo...), enquanto a maioria deles está completamente integrada ao sistema linguístico
do português, formando derivados portugueses a partir de uma mesma raiz banto
(esmolambado, dengoso, sambista, xingamento, mangação, molequeira, caçulinha,
quilombola...).
Ainda hoje, inúmeros
dialetos de base banto são falados como línguas especiais por comunidades
negras da zona rural, provavelmente remanescentes de antigos quilombos em
diversas regiões brasileiras.
O PORTUGUÊS DO BRASIL
Depois de quatro séculos de
contato direto e permanente de falantes africanos com a língua portuguesa no
Brasil, esse processo de interação linguística, apoiada por fatores favoráveis
de ordem sócio históricas e cultural, foi provavelmente facilitado pela proximidade
relativa da estrutura linguística do português europeu antigo e regional com as
línguas negro-africanas que o mestiçaram. Entre essas semelhanças, o sistema de
sete vogais orais (a, e, ê, i, o ê, u) e a estrutura silábica ideal (CV.CV) (consoante vogal. Consoante vogal), onde
se observa a conservação do centro vocálico de cada sílaba e não há sílabas
terminadas em consoante.
Essa semelhança estrutural
provavelmente precipitou o desenvolvimento interno da língua portuguesa e
possibilitou a continuidade da pronúncia vocalizada do português antigo na
modalidade brasileira (onde as vogais átonas também são pronunciadas),
afastando-a, portanto, do português de Portugal, de pronúncia muito
consonantal, o que dificulta o seu entendimento por parte do ouvinte
brasileiro, fazendo-lhe parecer tratar-se de outra língua que não a portuguesa.
Nesse processo, o negro
banto, pela antiguidade, volume populacional e amplitude territorial alcançada
pela sua presença humana no Brasil colônia, ele, como os outros, adquiriu o
português como segunda língua, tornando-se agente transformador da língua portuguesa
em sua modalidade brasileira e seu difusor pelo território brasileiro sob
regime colonial e escravista. Os aportes do ewe-fon e do iorubá, menos extensos
e mais localizados, embora igualmente significativos para o processo de síntese
pluricultural brasileira, sobretudo no domínio da religião.
Considerando que o português
do Brasil não é um todo, um bloco uniforme, mas um conceito coletivo que se pode desdobrar em níveis, de acordo com
as ocasiões, as regiões e as classes sociais, os aportes africanos estão mais
ou menos completamente integrados ao sistema linguístico do português
brasileiro segundo os níveis de linguagem socioculturais, enquanto
o português de Portugal (antigo e regional) foi ele próprio africanizado, de
certa forma pelo fato de uma longa convivência.
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